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O que uma tulipa pode nos ensinar sobre bolhas financeiras?

Foto do escritor: Dimas AlcantaraDimas Alcantara

Você venderia sua casa para comprar uma tulipa?


Pois bem, por mais maluca que possa parecer essa pergunta, muitas pessoas fizeram isso. Sim, na Holanda do século XVII muito nobres, pessoas com recursos financeiros e patrimoniais da época, compravam um só bulbo de tulipa por valores equivalentes a preço de imóveis, de casas em Amsterdã.


Considerada por muitos com a primeira grande onda especulativa do mundo, o caso das tulipas pode nos ensinar muito sobre as bolhas financeiras, como elas ocorrem e como nos protegermos para não perdermos dinheiro.


Essas flores, famosas por sua beleza foram um grande sucesso de vendas, notadamente aquelas que infectadas com um tipo de vírus que despigmentava a flor, porém, esse problema, na verdade, acabou produzindo tulipas diferentes, mais bonitas e consequentemente mais caras, por sua aparência, mas principalmente por seu número reduzido quando comparado com a produção das tulipas normais.


Esse efeito é conhecido, no mercado financeiro, por lei da oferta e demanda, ou seja, quando há uma procura por um determinado bem, maior do que a oferta desse mesmo bem no mercado acontece o aumento de preços, pois quem tem o produto para vender, sabendo que é algo desejado por muitos potenciais compradores, aumentam os valores para negociação do bem em questão.


Uma bolha financeira ocorre quando há, como no caso das tulipas, uma forte valorização ou aumento de preço de um determinado produto, sem que existam motivos justos para isso. E não percebemos algo que efetivamente explicasse uma única flor de tulipa alcançar patamares de valores que levavam as pessoas abastadas da época, vender suas casas para comprarem uma unidade que, convenhamos, não tem a mínima explicação lógica para tal, principalmente se levarmos em consideração a perecidade da flor, que poderia em algum momento murchar e morrer.


Se não bastasse tudo isso, os produtores então começaram a especular sobre a produção das tulipas, negociando então as produções futuras sob forma de títulos de compra e venda, e o cenário até então favorável aos produtores sofre mudanças drásticas, uma vez que o número de pessoas que tinham condições financeiras ou que estariam dispostas a vender seu patrimônio eram escassas, o que acabou diminuindo rapidamente a demanda pelo produto, levando os valores irreais, insanos talvez, cobrados pelos agricultores até então, a uma queda significativa, levando o comércio das “super” tulipas a derrocada.


Como sabemos que sempre existem os “espertos” que trabalham para conquistar vantagem em tudo, independente da licitude e moralidade de suas ações, o problema ainda foi agravado por fraudes, pois alguns produtores venderam quantidades de tulipas no “mercado futuro” muito superiores as que poderiam efetivamente produzir e entregar.

A bolha das tulipas, como ficou conhecida, teve seu modus operandis replicados em outras bolhas que conhecemos, como a mais conhecida delas, a bolha do subprime em 2008 nos EUA, com a oferta exacerbada de crédito, de forma injustificada, e consequente distorção dos preços dos ativos.


Trazendo para nossa realidade, a bolha financeira acontece quando um ativo financeiro, como por exemplo uma ação, inexplicavelmente ou sem justificativas plausíveis começam a ser negociadas na bolsa de valores por preços muito acima das cotações até então praticadas, ou seja, sofrendo especulação, pois como o aumento não é derivado de resultados efetivos apresentados pela empresa, que pudessem embasar tal valorização, passa a ser totalmente subjetivo ou abstrato.


E o pior é que os investidores sendo influenciados por um viés cognitivo chamado de efeito manada, acabam investindo seus recursos nos ativos em questão, somente por verificar em que muitos outros investidores estão fazendo o mesmo. E como não existem fundamentos que sustentem os atuais preços dos ativos, são grandes as chances de estourar essa “bolha” e as ações sofrerem uma queda descomunal que certamente provocará muitos prejuízos aos investidores, e a depender do tamanho da bolha ela pode repercutir ainda na economia do país e de forma global atingir outras economias pelo mundo, alcançando patamares de prejuízos inimagináveis, como pudemos ver no caso da bolha do subprime.


Hoje estamos correndo riscos de estarmos vivendo uma bolha?


Muitos economistas afirmam que é muito dificil prever uma bolha financeira ou saber se já não estamos dentro de uma, pois na maioria das vezes só escutamos o barulho e os prejuízos causados quando do estouro da bolha.

Mas existem formas de tentar antever uma bolha financeira. Segundo o economista americano Hyman P. Minsky, especialista em crises financeiras, existem cinco fases que podem evidenciar as bolhas financeiras, que são:


Deslocamento: poderíamos chamar de fase do encantamento, pois é o momento em que os investidores começam a perceber novas oportunidades de investimentos, entendendo que um determinado ativo aparentemente tem potencial de grande crescimento, ou seja, maiores retornos de forma mais rápida.


Aqui cabe lembrar de um princípio presente no tripé dos investimentos (risco, rentabilidade e liquidez), que diz que quanto maior o rendimento esperado, maior a probabilidade de riscos, conceito esse esquecido por muitos investidores.


Boom: nessa fase começa a acontecer a valorização do ativo, a princípio de forma mais tímida, porém logo ganha força, notadamente pela entrada de novos investidores, e de forma desinibida tem suas cotações turbinadas, e ganha fama no mercado de ações, e com sua exposição na mídia ganha cada dia mais fãs, mais investidores aplicam ali seus recursos.


Euforia: é a chamada fase do otimista, ou seja, há um sentimento geral de otimismo sobre os ativos e sua cotação alcança valores ainda mais expressivos. Os investidores estão tão inebriados com as possibilidades de ganhos que esquecem dos riscos e não questionam alguns princípios básicos da aplicação em renda variável, como por exemplo, a solidez desses papéis.


Lucro: nessa fase muitos olhos brilham satisfeitos com os resultados de seus investimentos e quem realiza o lucro (vende as ações) no momento do ápice dos preço tem muitos motivos para se orgulhar dos ganhos aferidos. Entretanto são poucos os investidores que sabem exatamente a hora de sair dos papéis, de vender suas ações, e o viés da ganância estimula os mesmos a buscarem ainda mais ganhos, uma vez que o valor da ação só aumenta dia após dia.


Pânico: essa fase é literalmente a fase das lágrimas, uma vez que muitos investidores ultrapassaram a fase do lucro, ansiando por mais ganhos, perdento o time, o momento certo que deveriam vender suas ações, e começam a ver a queda do preço dos ativos, assistindo, quase que inerte, seus prejuízos se avolumando na tela do seu homebroker.

Há ainda os mais “corajosos” que mantém os investimentos no ativo que está derretendo, acreditando que é só uma fase passageira e que as ações só podem ser vendidas quando retornar aos preços ancorados anteriormente quando do auge da cotação do ativo, o que dificilmente ocorrerá e só ampliará as perdas desses investidores.


O objetivo deste artigo não é causar preocupações aos leitores, mas sim contribuir para que os mesmos evitem cair nessas armadilhas, que possam estar municiados de informações que os ajudem a perceber possíveis bolhas, que infelizmente podem ocorrer num ativo específico ou no mercado todo, como já vimos acontecer muitas vezes.


Antes de investir procure informações, converse com profissionais do mercado de investimentos e considere avaliar alguns indicadores que podem te ajudar a tomar decisões mais assertivas, minimizando os riscos de fazer investimentos que não são adequados ao seu perfil e aos seus objetivos, enfim sua estratégia de investimento.


A questão de que, se estamos ou não dentro de uma bolha financeira é um assunto bem polêmico, uma vez que há correntes de pensadores que dizem que sim e outros que dizem que não, mas queremos saber a sua opinião, para você existe a possibilidade de estarmos dentro de uma grande bolha financeira?


Deixe sua opinião nos comentários e teremos grande satisfação de conhecer sua visão sobre o assunto.

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